Pescador de Jaú

Pensamento

Pensamento

Sempre tive muito amor por minha família, meus amigos e por tudo o que fiz e o que faço.

Há muitos anos (meados da década de 1990), em busca de realizar um sonho antigo, o de morar na beira de algum rio no Pantanal, fui viver com a família às margens do Apa, no Mato Grosso do Sul, pelo qual me apaixonei quando o conheci no tempo em que servia no Cmdo da 4ª Brigada de Cavalaria Mecanizada do Exército.

Ainda que com muitos sacrifícios impostos a todos da família, lá passei a perseguir um ideal: desenvolver a pesca esportiva, gerar emprego e renda para aquela gente esquecida e isolada da Colônia Cachoeira, trilhando no caminho da sustentabilidade.

Foi onde tudo começou, essa minha nova caminhada àquela época, um verdadeiro desbravamento na região, e que até rendeu-me o apelido de "Pescador de Jaú", como muitos me chamam até hoje...

À parte o empreendimento de pesca (pousada) desde que iniciei a implantá-lo, minha casa passou a ser o "Pronto Socorro" da comunidade tão logo descobriram que eu era Técnico de Saúde (enfermagem, fármácia e socorrista).

Com os anos e com a contribuição dos pescadores que para lá trazíamos, pudemos contribuir com a comunidade na construção de banheiros, casas, posto médico, campanhas de saúde familiar (contra pediculose, contra desnutrição, vermifugação generaliada...), campanhas odontológica, social, de agasalhos, saneamento etc... e foram muitas as ações cívico-sociais que consegui direcionar para a Colônia Cachoeira, ano após ano, cada vez  mais abrangentes, valendo-me do círculo de relacionamento que criei durante minha carreira militar, e em vários eventos até com presença da EPTV (filial da Rede Globo) junto, gravando as atividades entremeadas às matérias das pescaria para os Programas Terra da Gente.

E pasmem, quando lá cheguei, das quase 50 famílias existentes, apenas duas delas tinham banheiro e casa de alvenaria; restante era de pau a pique e o banheiro era buraco cercado de plástico preto ou palha -  uma insalubridade desoladora. Afora o que muito mais poderia ser mencionado... E o poder público somente passou a enxergar melhor aquela comunidade e a se incluir em algumas das ações, mesmo que na maioria das vezes de forma irrisória, a partir de quando passamos a informar/convidar os políticos e gestores para as ações que vínhamos realizando em prol da comunidade.
Outra, quando conseguimos a duras penas convencer o governo estadual a trazer um posto policial para fiscalizar a atividade de pesca, nós mesmos edificamos um barracão para lojamento e com nossa camioneta fizemos a troca dos policiais plantonistas ao longo de um ano e meio, até que conseguiram destacar uma viatura própria - "brabo isso"!...

Vale destacar um grande salto na qualidade de vida da Colônia Cachoeira, histórico eu diria, foi quando Elzinha (que é pedagoga, jornalista, admnistradora de empresas), a peso de muita briga política por assim dizer, conseguiu entrar na escola da comunidade, onde até então só atuavam professores leigos que, dentre outras barbaridades, por exemplo, pronunciavam "bicicreta", "adevogado", e mal sabiam multiplicar.

Engraçado, para encurtar a história, foi que Elzinha teve que se impor ameaçando o prefeito de que tomaria posse na escola de uma forma ou outra, mesmo que por ordem judicial, para então poder lecionar para as crianças e adultos da comunidade. Politicagens baratas se impunham a ela, porém, pobres almas gestoras da educação municipal, mal sabiam com quem estavam lidando, com a Doutora em Leis da Educação - Dona Elzinha, isso mesmo.  Resultado? Foram 4 anos de muito progresso; Ao deixar a escola Elzinha deixou três dos antigos professores leigos aprovados em faculdade e estudando pedagogia; alunos tiveram uma alfabetização de nível jamais visto em todo o município... amplamente reconhecida posteriormente. Isso dá muito orgulho, afinal, de uma forma ou outra, Elzinha chegou na Colônia Cachoeira comigo... bom demais relembrar essa saga em particular. 

Nessa jornada, por vezes dura e complicada, de dificuldades mil, e até que passei a viajar muito para "apresentar e divulgar" a nossa colônia, sempre fiz novos amigos. Encontrei parceiros não menos inspirados e seguimos mais longe. Criamos a APPATur, a Confraria de Amigos do Rio Apa, o programa de televisão Pesca Sem Fronteiras... tudo me conferiu muito aprendizado, muita bagagem acumulada e que me serviria para tantas e tantas outras empreitadas no universo da pesca esportiva, para a vida de uma forma geral.

Olhando para trás, até parece que tudo foi muito fácil. Porém... [sempre tem o "porém"]... vez por outra atravessamos fases dificílimas. E é aí, que também sofremos desilusões e desgostos. Naquela época, quem diria, até políticos dos governos municipal e estadual, agentes de órgãos fiscalizadores etc., "batiam contra" a gente que lutava em prol da pesca puramente esportiva, onde combatíamos a depredação dos rios... além dos comuns invejosos e incrédulos de plantão que em qualquer outro lugar e atividade sempre espreitam e fazem por querer atrapalhar.

Uma boa lição que destaco, dentre tantas, assim como numa "prova de fogo", das várias que já enfrentei, o sentido é o mesmo: o "amigo verdadeiro é aquele que fica" em nossas vidas, mesmo a distância, porém acessíveis, enquanto os "outros" simplesmente vão embora ou desistem frente a qualquer adversidade. Graças ao bom Deus, os que ficaram, e outros que se juntaram ao longo dos anos, mesmo que aparentemente sejam poucos, estes foram, são, e ainda têm sido maravilhosos comigo e ajudam das mais diferentes formas na missão que abracei.

E olhem, voltando aos invejosos e maledicentes, sabe-se lá por que, sentem prazer em atrapalhar a vida alheia e vivem criando situações embaraçosas, falsas denúncias, fofocas, intrigas etc. Somam-se a isso rancores de politicagens sórdidas e baratas, das mais diversas. Não vale a pena sequer discorrer seus detalhes. Como dizia meu compadre: "Não gastemos velas boas com defuntos ruins"... rsrsrsrs.

Assim sou eu, sigo em frente - sempre. Sou feliz por isso. Por não desanimar nem desistir, por mais difíceis que tenham sido, ou parecido ser, quaisquer circunstâncias. Não me permiti recuar, nem permitirei. E não acredito em coincidências.

Tive tantas e tantas pessoas importantes a meu lado, mesmo que por breves períodos. Percebam a diferença: afastaram-se por questões diversas, geograficamente, mas sempre ligados a mim e eu a eles. Os laços permanecem.

Tive Marli e Elzinha do meu lado, cada uma a seu tempo, e minha mãe sempre presente... Ah, essas mulheres... fizeram e fazem toda a diferença em minha jornada.
Meu pai, meus filhos, meu amado irmão Dione, meu maninho...
E que saudades do Diovane!... ele estaria conosco em tudo se ainda estivesse entre nós, este meu irmão de sangue que era tão apaixonado por pescarias assim como eu.
Tenho grandes amigos de tempos, o Puga e o Franco... e também o Reginaldo que, sem exagerar, mais parece, tenho dito, a um "anjo encarnado", um irmão singular, alguém que representa uma grande dádiva de Deus em minha vida e nas daqueles que nos acompanham no trabalho.

Nesta seara venho colecionando milhares de clientes dos quais muitos se tornaram amigos especiais de pescaria; muitos viraram clientes assíduos e regulares; ainda que em ínfima minoria também há o rol de outros nem tão satisfeitos (e tenho ciência) que se frustraram ou se decepcionaram com nosso trabalho, e é claro, por mais que tudo possa ter uma lógica explicação ou justificativa, não poderei jamais tirar mérito de nenhum deles, afinal, em pescaria, qualquer expectativa não alcançada é fator de agravamento em diferentes níveis da compreensão humana, cada ser éúnico e reage de forma única. Assim é, desde um atraso para sair numa pescaria ou retornar dela, até o fato de não se pescar o tão sonhado troféu... e por aí vai. Resta-me seguir no esforço permanente de aprimoramento para evitar ao máximo tais frustrações.

Também conheci grande parte do Brasil, da Argentina e do Paraguai; viajei muito por terra, água e ar, pesquei muito em tantos e tantos rios que nem consigo enumerar; vivenciei aventuras das mais diversas como rodar na Transamazônica em período chuvoso, atoleiros, muito barro em meio à selva... maravilhoso!

Enfim, sinto-me realizado, e por que não dizer, poderoso por isso, dado o nível de ousadia no empreendedorismo que sempre empreguei na vida até hoje. Só tenho mesmo a agradecer e com muito mais a fazer, aproveitando-me das experiências já vivenciadas, muitas boas, outras não, mas todas importantes, sem a menor dúvida!

Atualmente venho embrenhado com mais afinco em operações de pesca na Amazônia, atuando para também contribuir no desenvolvimento sustentável de comunidades ribeirinhas do Amazonas e de Roraima com nossos Cruzeiros de Pesca Esportiva à bordo do Iate Amazônia Sem Fronteiras.
E, mais uma vez, com aliados fortes e comprometidos: Elzinha, na retaguarda de fé; Sandra no empenho direto, e que com ela trouxe a Fabiana, o Preto, o Bidí, a Joana, a Alcirema; o nobilíssimo companheiro Reginaldo que permitiu-nos um alicerce importante em todo o desenrolar do projeto amazônico com o iate; meu amado maninho Dione que também se comprometeu ao extremo com o projeto... Todos num engajamento ímpar, até heróico em alguns momentos, haja vista tantos e tantos empecílhos e imprevistos, como Pandemia (2019 a 2022), seca histórica na Amazônia em 2023 e suas consequencias financeiras e sociais, a quase destruição do bioma pantaneiro por seca e pelo fogo no Pantanal nos últimos anos... crises e crises mais. 

Jamais desistirei dessa jornada na Pesca Esportiva. Com o aprendizado da vida, com as pessoas que me abençoam participando da empreitada, seja direta ou indiretamente, tudo me permite garantir a afirmação. Tudo pelo bom, para o bem, e pelo belo, com as graças do Poder Maior.

Seguirei com as máximas que regem minha vida e minhas ações:
   Nada acontece por acaso;
   Nada se perde, tudo se transforma;
   Ninguém é tão rico que não venha a precisar, nem tão pobre que não tenha o que doar;
   As grandes conquistas também nos impõem os maiores riscos e sacrifícios.

Portanto...
Aos que ficaram, que ajudaram a suportar as agruras impostas, a eles dedicarei o sucesso, e um dia com certeza brindaremos.

À família dedico os resultados que virão.
Aos que foram, ou que forem, minha compreensão.
Aos que se enxergarem como inimigos, minha compaixão.
Aos nossos clientes, toda a gratidão e dedicação para melhorarmos cada vez mais, corrigindo nossas falhas.
E aos demais, o benefício da dúvida, do livre arbítrio.
Em tudo, por certo mesmo, só o tempo confirmará.

Ave!

João Carlos "Pescador de Jaú"